terça-feira, 20 de agosto de 2013

Miúdas da Baixa





Não era apenas o fulvo escarlate dos cabelos que, inusitados, se espraiavam sobre a carnagem esquálida, furiosos na ondulação imposta sobre as sardas que pontuavam e tornavam mais mortal a tez alva. Era mais do que o verde que incandescia dos olhos reservados, para quem lhes merecesse a atenção, por aqueles Oakley odiosos, de um horroroso reflexo azul estridente, que reflectia a parvalheira estampada nos mancebos-de-baixa ao depararem-se incautos perante o glorioso acentuado daquelas curvas deliciosas, torneadas apenas pelo afago áspero de uns provocantes calçõezinhos de ganga que, por mero requinte literário, cediam aos bolsos vazios, pendentes, um pouco de protagonismo. Percorria, bárbara de feições e sotaque, os cubinhos enegrecidos da calçada que a viam deslizar divertida pela atenção dos nossos trigueiros, intencionados por uma formosura que, pecando no platónico, idílico do romantismo, ganhava no mais doce e carnal dos desígnios.
…..

Aquele cu de cerveja morria no copo quente, daquela tarde quente, enquanto lânguido deixava desfalecer nos ouvidos as palavras metralhadas como se não cozessem quarenta graus na rua pelo outro, o mais baixito, mais informado sobre os Lorenzos e as Judites e a santidade da constituição que “tinha de ser intocável, imutável, perene” e tantas outras obscenidades que a iam escondendo da sua atenção até ser tarde de mais. Até que, impreparado, atordoado, a viu, entre todas as outras e todos os outros que a tinham visto já e balbuciou, condensando todo o seu lirismo:

- É gira.

- No Verão, tudo o que é preciso é uma rapariga bonita, disse-lhe o outro, o mais baixito, mais informado.





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