domingo, 28 de julho de 2013

Cartas à Madrinha






Coimbra, vinte e oito de Julho, do ano do Nosso Senhor de dois mil e treze,
Faz tempo de agradecimento e lavoura, com sol propício ao amanho ou ao passeio,





Cara Tia e Madrinha, por Deus, do meu coração,


Escrevo-lhe com mão tremente de júbilo, esperando que estas tão regozijantes notícias encontrem Vossa Senhoria na graça sã do vigor de bons fluidos e restantes movimentos que permitam o gozo da temporada de descanso, não excluindo os deveres Domingueiros, que com imensurável graciosidade achou por bem estender aos braçais da fazenda, salvo os necessários para a gerência diária das obrigações inerentes à ruralidade.

Vivem-se dias de desenganada felicidade com varões reconhecidos e com nome de família a fazerem ecoar autos de notícia, quer nestas terras abençoadas pelo beijo terno de uma República, que já vai na terceira, como nos sítios regidos pela Coroa Britânica. Dois nascimentos, que alegria!

Os pouco mais de três quilos esguichados por entre o nalguedo plebeu de Catherine, com a pompa e a circunstância devida ao ventre feito real pelo legítimo e honesto marido, têm rendido tença relevante, bem mais que duzentos milhões de euros, na nova moeda, apenas do comércio de parafernália variada para o tratamento dos mais pequenos súbditos do Império.

Em Lisboa, talvez motivados por um bebé real que em duas horas de biografia faz mais pelas poupanças da plebe que dois anos do Governo cá da terra, também se conseguiu o parto, puxado a ferros, de um nado considerado morto durante cerca de três semanas. Havia de ser intervencionado, recauchutado. Soube Nosso Senhor fazê-lo sobreviver, lá saberá melhor.

Dizem os pais, babados de alegria saloia, que maquilhadinho dá um menino muito bonito. Digo-lhe, em jeito de confidência, que, não crendo rogar macumbas ao pequeno, não acredito que se aguente além da calmaria do estio, mesmo resguardado no regaço do vovô Aníbal. Nasceu babão, tortinho, coitado. Quando o puserem frente a uma dívida que transpõe a percentagem dos cento e trinta do nosso Produto, com a necessidade de elaborar novo Orçamento para o Estado, não falando das cicatrizes que impuseram ao cachopo na ânsia da sua sobrevivência, temo que padecerá. Nascerão mais, com a graça do Senhor.

Despeço-me de Vossa Senhoria com os mais cordiais votos de prosperidades na propriedade e com a garantia que a encomendarei nas minhas rogações ao nosso Senhor Deus.


O seu Sobrinho sempre ao dispor,

S. P.












Imagem em http://www.rarasuperstar.com/wp-content/uploads/2012/12/Reading-vintage.jpg

segunda-feira, 8 de julho de 2013

O Sociopata



Um Portas animalesco de raiva, a espumar pela cabeça de Passos e, completamente cego, a demitir-se do cargo sem dar Cavaco a ninguém, é algo inteligível apenas entre a poeira, o sol e os gritos incrédulos de desespero e abandono que ecoavam pelas ruas chocadas da Capital, que lacrimejavam pelo fim, o nosso e o dele. Como se tal fosse possível vindo de um colosso político cuja capacidade de sobrevivência é directamente proporcional ao número de botões da camisa que vai desaprendendo a apertar.

Não, não foi irracional. Não, não estava louco. Não, não foi impulsivo. O brilhantismo foi de tal ordem, que só depois da jogada feita é que é possível apreciar a sua beleza. Para sair da estagnação política onde se encontrava, aproveitou a falta de uma alternativa credível do PS para apresentar governo, a ausência patológica de um outro líder para o CDS, o medo dos credores de uma restruturação da dívida e o facto de Merkel estar em pré-campanha, preferindo todos um acordo rápido a uma crise política prolongada, para forçar o Primeiro-ministro a mantê-lo no Governo, com as condições que lhe apeteceu exigir.

O mais bronzeado dos sociopatas irá agora fazer uns brilharetes económicos à custa de uns dinheiros do BEI e do KfW. Talvez uma descida irrisória dos impostos, agora que até é chefe da Gaspar.

Na sua perversão sádica expôs a fragilidade do tecido político enquanto jogava com todo um País. Libertou-se da opressão do bom senso e da decência, constituindo uma ameaça para terceiros, para todos nós. Não fosse ele o número dois do Governo e talvez fosse razão para ser internado. Compulsivamente.









Imagem em http://cf.drafthouse.com/_uploads/galleries/27278/american_psycho.jpg. 




quinta-feira, 4 de julho de 2013

The Godfather


Os óculos lacrimejavam por descanso no breu cortado por um ecrã que debitava, demasiado luminoso, os fatos, nus sem chapéu, e aquele sotaque insular com cheiro de um mediterrânio ao sol que escalda o rosado siciliano de italianinhas, com olhos negros de mulher. É um inglês mais que americano, é sensual, voluptuoso, é italiano. É compassado a tiro de bala. Que esconde sobre o virginal do manto familiar uma hierarquia militar baseada no respeito, mesmo deturpado pelo medo, mesmo imposto pela força.

Há que defender o Don, seja ele o pequeno Andolini, que se fez Vito com o suor de quem sobe a punho, seja ele Michael, que mesmo não querendo sempre foi Corleone, ou mesmo Vincent Mancini que, não o sendo de nome, tinha a inteligência calculista e a firmeza de quem deixa o amor de Mary para ser líder de uma família de homens.

Foi uma maratona copolliana que projectou o magnetismo que emana de quem tudo fará para proteger a (sua) Família. De quem põe de parte pequenos interesses mesquinhos, colocando e sabendo nivelar conveniências alheias, que afinal também são suas, no topo das prioridades. De quem não aceita, nem desculpa, traições, mudanças de andamento a meio da música porque matariam um programa comum.

Deslealdades fraternais que poem em causa todo um projecto e toda uma Família que o suportou, que penou por ele durante 2 anos, devem ter o mesmo destino que Fredo Corleone, que rezou o seu último Hail Mary já com aço a fumegar da nuca.


Recomende-se a genialidade do Francis Ford a Paulo Portas e Pedro Passos Coelho, pode ser que deixem de brincar às democracias.